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06/02/2012

O marido enganado

O príncipe Khafré levantou-se para falar: “Vou contar à tua majestade um prodígio que aconteceu no reinado do teu pai Nebka, justificado, quando ele foi ao templo de Ptah, senhor de Ankhhtaui”.
Ora quando sua majestade foi a Ankhtaui, chamou o sacerdote leitor chefe Ubaoner. Aconteceu que a mulher de Ubaoner se apaixonou por um homem da cidade e mostrava a sua afeição mandando presentes de roupa pela sua serva. Sempre que havia condições, ela mandava a serva levar o seu amante até à casa de Ubaoner. Aí o homem da cidade dizia à esposa de Ubaoner: “Há um pavilhão no jardim, pois bem, vamos lá passar um momento feliz.”
Então a mulher de Ubaoner disse ao servidor encarregado do jardim: “Faz preparar o pavilhão que está no jardim”.
Em seguida ele e ela passaram o dia a beber. Quando escureceu o homem da cidade desceu para o lago, a fim de ali se purificar enquanto a serva procurou o encarregado do jardim e contou-lhe o que sua ama tinha feito.
Logo que nasceu o dia seguinte, a primeira coisa que o encarregado do jardim fez foi procurar o seu senhor Ubaoner e contar-lhe tudo o que ouvira da serva. Então Ubaoner ordenou ao encarregado do jardim que fosse buscar a sua caixa mágica. Era uma caixa maravilhosamente elaborada, feita de ébano com decorações de ouro. Depois Ubaoner tirou dela uma espécie de cera e fez um modelo de crocodilo com sete côvados de comprimento. Recitou então encantamentos mágicos sobre modelo de crocodilo e disse-lhe: “Quando alguém chegar para se banhar no meu lago, apodera-te dele.”
Depois de ter dito a sua fórmula, Ubaoner entregou o crocodilo ao encarregado do jardim e disse-lhe: “Espera o momento em que o tal homem entrar no meu lago para tomar banho, segundo o seu costume diário: lança então este crocodilo na água na direção dele.”
O encarregado do jardim retirou-se, levando com ele o crocodilo de cera. Pouco depois, a mulher de Ubaoner disse ao encarregado do jardim: “Faz preparar o pavilhão que está no meio do jardim, porque eu quero passar lá um momento.”
O pavilhão foi então fornecido de todas as coisas boas. A dama passou depois um dia feliz com o homem da cidade. Ora quando veio o entardecer ele foi até o lago como fazia todos os dias. Então o encarregado do jardim lançou à água o crocodilo de cera, e este transformou-se num crocodilo com sete côvados, apoderando-se do homem da cidade.
Entretanto, Ubaoner passou sete dias com a majestade do rei Nebka, justificado, enquanto o homem da cidade era mantido, sem respirar, nas profundezas do lago. Depois desse tempo, a majestade do rei Nebka, justificado, foi a Mênfis, e o sacerdote leitor chefe Ubaoner aproximou-se dele, dizendo: “Quer a tua majestade acompanhar-me e ver um prodígio do teu reinado?”.
O rei acompanhou Ubaoner até ao lago e então o sacerdote chamou o crocodilo, dizendo: “Traz-e o homem até aqui”.
Quando o crocodilo apareceu com o homem, sua majestade disse: “Esse crocodilo é certamente perigoso.”
Ubaoner curvou-se e pegou no crocodilo, que se tornou de novo um modelo de cera na sua mão. Depois o sacerdote leitor chefe Ubaoner contou à majestade do rei Nebka, justificado, o que o homem da cidade tinha feito com sua esposa. Então sua majestade disse ao crocodilo: “Toma o que te pertence.”
O crocodilo mergulhou no lago e nunca ninguém soube para onde ele foi com o homem da cidade. A majestade do rei Nebka, justificado, ordenou em seguida que a mulher de Ubaoner fosse levada para um terreno aberto na zona norte do palácio, onde ela foi queimada, sendo suas cinzas lançadas ao rio.
“Foi esse o prodígio que aconteceu no reinado do teu pai, o rei Nebka, graças à arte do sacerdote leitor chefe Ubaoner”, disse Khafré.
Então a majestade do rei Khufu disse: “Que sejam oferecidos mil pães, cem jarros de cerveja, um boi e duas medidas de incenso ao rei Nebka, justificado, e que seja entregue um bolo, um jarro de cerveja, um naco de carne e uma medida de de incenso ao sacerdote leitor chefe Ubaoner, porque eu vi um exemplo do seu poder.”
E tudo foi feito de acordo com o que sua majestade tinha ordenado.