( 391x375 , 253kb)


24/07/2011

O bêbedo e sua mulher



Nem medo nem vergonha contrariam
A natural tendência.
O conto que se segue
Tem, neste caso, a marca da evidência.
Um devoto de Baco arruinava-se
Por causa da goela;
De força andava baldo, e de pecúnia...
Nem sombras na escarcela.
Um dia em que perdera a tramontana
Bebendo a bom beber,
Numa espécie de tumba
Fê-lo a esposa meter.
Quando ele, enfim, saiu da raposeira,
Viu todos os sinais que indicam morte,
A lâmpada, a mortalha... «Ó Deus, que é isto?...
Fiz viúva a consorte?»
Esta, em trajes de Parca disfarçada,
Do marido se abeira:
«Quem és?» – «Eu sou da lúgubre morada
A eterna despenseira.
Dou de comer à farta aos que repouso
No reino escuro têm.»
E o marido a bradar muito aguçoso:
«E que beber, não vem?»


Tradução de E. A. Vidal