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28/01/2011

Ele há cada nome

Há nomes que nem inventados. Mas são verdadeiros. Eu garanto, porque os colecciono e cato, um a um, pelas listas telefónicas do país.
A família Barriga, por exemplo, tão velha como Portugal. Já no tempo do nosso primeiro rei, o bravo D. Afonso Henriques, vivia, na província da Beira, um Martim de Barriga.
Que ninguém se admire. Se há tantos Costas, porque é que não há-de haver alguns Barrigas?
A família cresceu, espalhou-se e chegou aos nossos dias. Conheci, há tempos, uma senhora, descendente do remoto beirão Martim de Barriga. Chama-se Maria das Dores, mais precisamente Maria das Dores de Barriga, o que talvez lhe cause alguma indisposição.
E o caso do Dr. Pedro Branco que se casou com uma senhora de apelido Feijão e tiveram um filho Feijão Branco?
Mais ou menos semelhante, e também verdadeiro, foi o caso ou casamento que uniu D. Maria José Coelho com o Engenheiro Manuel da Silva Guisado. O filho do casal chama-se Abel Coelho Guisado e não se importa.
Nem tem nada com que importar-se, porque, verdade verdadinha, há nomes muito mais esquisitos.
Contou-me a minha avó que um casal já com muitos filhos foi brindado com mais uma criança, um perfeito rapazinho que havia de se chamar...
- André - disse o pai.
- João - disse a mãe.
- Fernando - disse um avô.
- Camilo - disse o outro avô.
- Manuel João - disse uma avó.
- João Manuel - disse a outra avó.
Não se entenderam. Quando, na cerimónia do baptizado, foi preciso assentar o nome do bebé no livro dos registos, ainda a família não tinha chegado a uma decisão. Até que a mãe, para safar a encrenca, ditou ao sacristão, que estava de pena suspensa sobre o livro dos registos:
- Olhe, senhor sacristão, o nome do meu filho fica João, até ver.
E o obediente sacristão escreveu assim o nome do rapaz: ?João Até Ver Martins".
Mas, para o resto da vida, ficou só conhecido pelo João Até Ver.
- Pouco importa - concluía a minha avó, que esta história me contou. - O que vale é que cada um seja conhecido pelo que de bom fizer. Se for pelo que de mal fizer, então, sim, já terá razão para envergonhar-se do nome.
Grandes verdades ensinava a minha avó, de nome Olívia Torrado, que, todos concordarão, não é um nome assim muito vulgar...



Há nomes que nem inventados. Mas são verdadeiros. Eu garanto, porque os colecciono e cato, um a um, pelas listas telefónicas do país.
A família Barriga, por exemplo, tão velha como Portugal. Já no tempo do nosso primeiro rei, o bravo D. Afonso Henriques, vivia, na província da Beira, um Martim de Barriga.
Que ninguém se admire. Se há tantos Costas, porque é que não há-de haver alguns Barrigas?
A família cresceu, espalhou-se e chegou aos nossos dias. Conheci, há tempos, uma senhora, descendente do remoto beirão Martim de Barriga. Chama-se Maria das Dores, mais precisamente Maria das Dores de Barriga, o que talvez lhe cause alguma indisposição.
E o caso do Dr. Pedro Branco que se casou com uma senhora de apelido Feijão e tiveram um filho Feijão Branco?
Mais ou menos semelhante, e também verdadeiro, foi o caso ou casamento que uniu D. Maria José Coelho com o Engenheiro Manuel da Silva Guisado. O filho do casal chama-se Abel Coelho Guisado e não se importa.
Nem tem nada com que importar-se, porque, verdade verdadinha, há nomes muito mais esquisitos.
Contou-me a minha avó que um casal já com muitos filhos foi brindado com mais uma criança, um perfeito rapazinho que havia de se chamar...
- André - disse o pai.
- João - disse a mãe.
- Fernando - disse um avô.
- Camilo - disse o outro avô.
- Manuel João - disse uma avó.
- João Manuel - disse a outra avó.
Não se entenderam. Quando, na cerimónia do baptizado, foi preciso assentar o nome do bebé no livro dos registos, ainda a família não tinha chegado a uma decisão. Até que a mãe, para safar a encrenca, ditou ao sacristão, que estava de pena suspensa sobre o livro dos registos:
- Olhe, senhor sacristão, o nome do meu filho fica João, até ver.
E o obediente sacristão escreveu assim o nome do rapaz: ?João Até Ver Martins".
Mas, para o resto da vida, ficou só conhecido pelo João Até Ver.
- Pouco importa - concluía a minha avó, que esta história me contou. - O que vale é que cada um seja conhecido pelo que de bom fizer. Se for pelo que de mal fizer, então, sim, já terá razão para envergonhar-se do nome.
Grandes verdades ensinava a minha avó, de nome Olívia Torrado, que, todos concordarão, não é um nome assim muito vulgar...

António Torrado