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31/07/2010

O matador de dragões




Era uma vez, há muito tempo, quando o mundo era jovem, um rapaz que vivia numa aldeia no meio da floresta. Ele tinha um sonho: quando crescesse, queria ser um grande guerreiro. Um dia, no seu 16º aniversário, disse à família que queria partir. A mãe ficou triste. Mas disse-lhe:
- A tua partida entristece-me, filho, mas não te impedirei. No entanto, é difícil sair da floresta, se quiseres ir para o castelo real. Afasta-te dos dragões, eles andam por aí, se vires um não te armes em valente, foge imediatamente!
O rapaz, depois de se ter despedido da mãe, e de ter jurado que teria cuidado, pôs-se a caminho com a trouxa às costas. Andou durante muito tempo, até cair a noite. Aí, ele deitou-se debaixo de uma árvore e adormeceu.
Passado algum tempo, ele acordou. Como não via nada, pois era lua nova, pôs-se à escuta. O que ouviu foi uma canção estranha, cantada numa língua que nunca ouvira, e sentiu-se encantado. Hipnotizado, levantou-se e seguiu na direcção da musica. Já distinguia luz e alguns vultos à sua frente. Então, sem esperar, duas mãos agarraram-no e outras ataram-no com cordas. Depois levaram-no na direcção dos vultos.
Então o rapaz viu que eram elfos, o povo imortal que vivia simultaneamente no mundo dos espíritos e no dos mortais. Levaram-no para junto de um, mais alto que a maioria, que devia ser o seu rei ou chefe.
O rei falou então, e disse:
- Quem és tu, vil mortal, que no chão rastejas como os animais, para te atreveres a incomodar-nos?
O rapaz, meio assustado, meio revoltado com as palavras do rei, levantou-se e disse:
- Posso ser um mortal, mas não aceito ser chamado de vil. E não vos vim incomodar de propósito. Sou um simples rapaz, e procuro uma saída da floresta, para ir ter ao castelo do Rei dos Homens.
Então o rei elfo respondeu:
- Então é isso? Bem, rapaz, vou dizer-te uma coisa: a nossa lei diz que quem entrar no nosso território não poderá sair. Mas como vejo que és corajoso e desejas cometer grandes feitos, vou dar-te uma oportunidade. Decerto já ouviste falar dos dragões da floresta. Bem, os seus lideres, os Três Grandes Dragões, querem destruir-nos. Pois, embora não morramos de velhice ou cansaço, mortos por armas podemos ser. Bem, esses dragões, Ancalon, o Preto, Smaug, o Dourado, e Glaurung o Grande, precisam de ser detidos. E é aí que tu entras. Queremos que os procures nos seus covis e os mates. Trarás os dentes deles como prova do teu feito, percebeste?
O rapaz acenou, para mostrar que percebera. Embora ele soubesse que provavelmente não voltaria, a chama da aventura acendera-se nele.
O rei elfo, vendo que ele aceitara, ordenou que o armassem. E eles assim fizeram, armaram-no com cota de malha, armadura, escudo e espada, com as insígnias élficas.
E assim se pôs o rapaz a caminho. Durante muitas noites andou, andou, sem encontrar nada. Até que um dia, de manhã, acordou com o som de vozes rudes e ásperas. Correu na sua direcção e viu que eram anões, uma companha, armados de machados.
Os anões, quando o viram, correram na sua direcção e gritaram-lhe:
- Foge, se não queres ser assado vivo! Vem aí Smaug!
E afastaram-se a correr apavorados. Nesse momento ouviu-se um grito de parar o coração, tal o ódio e a maldade nele impregnado. Então ele desembainhou a espada e esperou pelo dragão. Este apareceu de repente, por trás de uma colina, mas estacou quando o viu.
Olhou-o com curiosidade, e disse-lhe:
- Hum, este deve ser o aperitivo de hoje. Diz-me rapazinho, porque não foges como todos os outros? Estás com tanto medo que nem te consegues mexer?
O rapaz não se impressionou, e disse: - Ouve, Verme Dourado, não tenho medo de ti! Estou aqui para te matar e é isso que vou fazer
Dito isto, saltou para a frente e cravou a espada nos membros inferiores do dragão. Este deu um grande guincho, e disparou fogo contra ele. O rapaz desviou-se mesmo a tempo. Então o dragão, que estava agachado, levantou-se. Nesse momento, o rapaz viu a sua oportunidade, e cravou a espada no ventre do dragão. Este caiu para trás. O rapaz retirou a espada e utilizou-a para lhe retirar os dentes. E pôs-se de novo a caminho.
Desta vez não foi necessário esperar para alguém lhe indicar o dragão, pois ele próprio viu o rasto negro por ele deixado. Cheio de pesar pela vegetação e pelos animais, foi andando até reparar em algo estranho: no meio da estrada estava um arco, juntamente com uma aljava de setas. Quando se aproximou, viu que alguém tinha deixado um bilhete. Este dizia: Atinge-o nos olhos. Boa sorte.
Intrigado sobre quem lhe teria deixado aquilo ali, pôs a aljava ao ombro e pegou no arco. De repente, ouviu-se um grito e o bosque atrás dele explodiu em chamas. Ele agachou-se e viu a chegar, do ar, Ancalon, o Preto, rei dos dragões alados, em todo o seu terrível esplendor.
O dragão desceu de repente, ficando a pairar um metro acima do rapaz. Este, cheio de raiva, não esperou sequer que o dragão falasse; pegou numa seta e atirou-lha ao olho. O dragão, apanhado de surpresa, caiu ao chão, cego pelo ferimento e pela dor. Quando viu a melhor oportunidade, o rapaz saltou-lhe para cima e cravou-lhe a espada na garganta. O dragão soltou um último grito e morreu.
O rapaz tirou-lhe os dentes, e pela segunda vez pôs-se a caminho. Desta vez tinha que procurar o último dragão, o mais terrível de todos. Enquanto andava, viu um lago de águas que pareciam de prata. Aproximou-se e começou a beber. De repente, ouviu um barulho de chapinhar, e viu aquilo que parecia uma forma humanóide, mas feita de água. O estranho ser disse então:
Não me temas! Sou um Espírito da Água, e pelos elfos tive conhecimento da tua missão. Quero ajudar-te, pois os dragões também me podem destruir a mim! Aproxima-te.
O rapaz, como que enfeitiçado, avançou até a água lhe dar pelos joelhos. O Espírito da Água também se aproximou, e disse:
Vou fazer-te um encantamento que te ajudará.
Pegou num pouco de água do lago e deitou-lha na cabeça, enquanto murmurava palavras incompreensíveis. O rapaz sentiu-se então fresco e aliviado.
- Agora fogo nenhum te poderá deter. Agora vai, e destrói esse maldito dragão!
O rapaz, sem palavras para agradecer tamanha dádiva, afastou-se e continuou a andar, pois embora fosse de noite, ele tinha perdido o sono.
E foi assim que ele encontrou Glaurung, o Dourado, pai dos dragões, num sono profundo. Dando graças à sua sorte, empunhou a espada, e pôs-se em frente à cabeça do dragão. Mas quando ia a dar a estocada final, este abriu os olhos vítreos amarelos, e disparou chamas contra ele. Não se conseguiu desviar, mas, para surpresa do dragão, o rapaz ficou apenas um pouco chamuscado. Ele saltou para a frente, e com um grande grito espetou a espada entre os olhos do dragão, que tombou imediatamente.
O rapaz, cansado, largou a espada e deixou-se cair no chão. Nesse momento, ouviram-se vozes e cantos, e o rapaz viu que eram os elfos, com o seu rei à frente. Este inclinou-se perante ele. O rapaz deu-lhe os dentes dos dragões, mas o rei devolveu-os, e disse-lhe para fazer com eles colares, para dar ao rei como prova da sua valentia. Este assim fez. Montou num cavalo que os elfos lhe ofereceram e partiu na direcção do castelo.
Quando chegou ao castelo e foi levado à presença do rei, mostrou-lhe os colares. O rei ficou muito impressionado, e nomeou-o Cavaleiro ali mesmo. E naquele castelo o rapaz viveu, e cometeu muitos feitos até ao fim dos seus dias. E durante muitos anos se contaram os feitos do Scatha Gorgor, O Matador dos Dragões.