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26/06/2010

Lenda dos Três Amores de Goai


A cidade de Goa, na Índia, teve vários nomes. Um deles era Goai, o nome de uma linda princesa hindu que, segundo a lenda, viveu num palácio sumptuoso, coberta de jóias e protegida pelo pai, o poderoso Nacrab, que sempre que chegava das suas viagens lhe oferecia presentes cada vez mais incríveis e exóticos. Um dia, Goai perguntou ao pai de onde vinha toda aquela riqueza ao que ele respondeu que a tinha herdado dos antepassados. Mas Goai não ficou satisfeita com a resposta e Nacrab mostrou-lhe um ídolo de ouro e esmeraldas, que representava o criador de toda aquela riqueza, ao qual Goai devia prestar culto todas as manhãs, mal o Sol nascesse. Assim fez a princesa, mas permanecia a dúvida no seu espírito, não conseguindo entregar-se, totalmente, àquela devoção.
A partir de certa altura, uma pomba branca começou a visitá-la todas as manhãs e, certa vez, pousou na sua cabeça, fazendo-a ouvir uma voz que lhe disse que havia apenas um único Deus criador. Nesse preciso momento, o ícone de ouro e esmeraldas rebentou em estilhaços. Dia após dia, Goai recebia ensinamentos da pomba branca e o seu coração encheu-se de felicidade. Os criados começaram a notar-lhe diferenças, dado que a princesa recusava mordomias, jóias e iguarias e, julgando-a doente, foram informar o pai. Quando Nacrab soube da boca da filha a razão da mudança de atitude, ordenou-lhe que voltasse a adorar os ídolos, mas esta recusou e decidiu oferecer tudo o que tinha aos pobres, passando a jejuar e a orar. Os súbditos, impressionados, disseram ao rei que iam seguir o exemplo da princesa. Sentindo o seu poder ameaçado, Nacrab decidiu castigar a filha e, perante mais uma recusa de Goai em renegar a sua nova fé, mandou que lhe fossem cortadas ambas as mãos e que a abandonassem no deserto. Goai caminhou ao acaso até que encontrou uma gruta onde estava uma fera que não a atacou, antes, pelo contrário, lambeu-lhe as feridas e acarinhou-a. Goai passou a alimentar-se de frutos silvestres e da água de uma nascente próxima, dando graças a Deus.
Algumas semanas depois, uma gazela ferida foi refugiar-se junto de Goai. Atrás dela ia um caçador cristão, fugido às perseguições de César, que julgou estar perante um milagre pelo facto de Goai viver entre as feras. Goai contou-lhe a sua história e o caçador disse-lhe que se chamava Vicente e que era um lusitano fugido da Península Ibérica num barco que foi ter à Índia. Com o passar do tempo, Vicente apaixonou-se por Goai e pediu-a em casamento, mas esta rogou-lhe que voltasse algumas semanas mais tarde, porque queria saber qual era a vontade do Senhor. Quando Vicente regressou, Goai mostrou-lhe as mãos que Deus lhe tinha devolvido, pois não queria que Vicente tivesse uma esposa sem mãos. Vicente e Goai viveram felizes de tal forma que faziam inveja a certas mulheres que cobiçavam Vicente. Nasceu um menino belo e forte, como ambos desejavam, mas, logo depois, Vicente foi obrigado a partir, deixando Goai e o filho aos cuidados de uma velha indiana. Algumas mulheres despeitadas aproveitaram a ausência de Vicente para forjarem um documento, supostamente assinado por ele, em que acusava a mulher de traição e a expulsava de casa com o filho que não acreditava ser dele.
Goai, que tinha apenas três amores no mundo, Deus, o marido e o filho, obedeceu às ordens que julgava serem de Vicente e foi para umas montanhas longínquas. Quando Vicente voltou a casa e lhe contaram o sucedido, correu logo a procurar Goai e o filho na gruta onde tinha conhecido a sua mulher. Foi lá que a encontrou e, longe das mentiras dos homens, decidiram viver na gruta, dando origem a Goa, uma cidade que, segundo a lenda, foi fundada por uma indiana e um lusitano.