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26/04/2010

O julgamento de Páris-Atena



Os deuses estavam presentes ao casamento da ninfa Tétis com Peleu, um mortal. Bem no meio da festa e dos cantos de himeneu, Éris, uma das divindades, levantou-se. Éris representa a discórdia, que divide os deuses e os homens. A alegria dos outros a entristece, e a felicidade deles é dolorosa para essa deusa malvada.
Na mesa em que se reuniam os convida¬dos divinos, ela lançou um pomo de ouro. Atena, Afrodite e Hera logo estenderam a mão. Éris lhes anunciou:
"Esse pomo que vocês três cobiçam é para a mais bonita."
Depois, calou-se.
Do rumor que percorreu a assembleia se elevaram sucessivamente os três nomes, mas ninguém quis correr o risco de dar a última palavra e provocar a cólera das deusas. Mesmo se a graça de Afrodite prevalecia, o brilho de Hera e a majestade de Atena impediam os deuses de lhe conceder o prémio. Éris sugeriu uma solução:
"Só um homem que não as conheça saberá escolher. E necessário um olhar novo e um espírito virgem. As três devem comparecer juntas diante de Páris, um jovem pastor que ainda não sabe que é filho do rei Príamo. Ele passa os dias nas montanhas pastando suas ovelhas. Deixem-no julgar."
Guiadas por Hermes, as três deusas, impacientes por saber do resultado, foram às encostas do Ida. Para convencer o árbitro, cada uma delas se cobriu com seus mais lindos adornos. E, uma após a outra, procuraram convencê-lo fazendo-lhe promessas tentadoras.
Hera começou:
"Você está destinado a subir ao trono de Tróia. Se escolher a mim, esposa do Senhor dos Céus, prometo-lhe o domínio de toda a Ásia."
Atena, a deusa da inteligência e da guerra, sucedeu-a:
"O poder sem a sabedoria não é nada. Em troca do pomo, eu lhe ofereço as artes políticas e militares que lhe permitirão reinar e conquistar as cidades."
Afrodite foi a última a falar:
"Você é bonito, Páris, e seria justo que obtivesse o amor da mais bela de todas as mulheres. Escolha-me, e lhe darei Helena."
Apesar da impressão que cada uma produziu no rapaz, as últimas palavras de Afrodite foram as que mais tocaram seu coração. Correspondendo ao desejo que a deusa fizera nascer nele, falou:
"Belas damas, vocês três são tão majestosas e tão divinas que não têm o que invejar uma da outra. Mas, à força e à glória, prefiro o amor."
Com essas palavras, deu o pomo a Afrodite como prémio para sua beleza.
Esse julgamento lhe granjeou a eterna gratidão da deusa do amor, mas em contrapartida provocou a hostilidade das outras duas contra o povo troiano. O rancor de Atena iria causar grandes desgraças à cidade de Príamo.
Pouco tempo depois, Páris deixou o rebanho e os pastos e foi para Esparta, certo de que conquistaria o coração de Helena. Desconsiderando a hospitalidade do rei Menelau, marido desta, o príncipe raptou a bela moça. O rapto encheu de indignação to-dos os gregos, que se juntaram para vingar a afronta. Um imenso exército partiu em direção às muralhas de Tróia, a fim de reclamar uma reparação. Durante dez anos, valorosos guerreiros se enfrentaram por causa de uma mulher.
Nos combates da Guerra de Tróia, Atena favoreceu os heróis gregos. Sob diferentes formas, ela aparecia para ajudá-los a alcançar a vitória sobre os troianos, dirigindo habilmente suas tropas. A arte da guerra era familiar a essa deusa que já viera ao mundo empunhando suas armas.
Atena era filha de Métis, primeira deusa a se unir a Zeus. Urano e Gaia tinham prevenido o deus dessa descendência:
"O destino prevê que o primeiro rebento da sua união com Métis será uma filha dotada de uma inteligência excepcional. Mas o segundo filho será um garoto violento e invejoso do poder do pai. Ele não demorará a destroná-lo para reinar no universo em seu lugar."
Temendo ter a mesma sorte que seu próprio pai, Crono, Zeus buscou um meio de pôr fim aos partos de Métis. Com palavras sedutoras, chamou-a. Ela se aproximou, e quando menos esperava, Zeus a agarrou e a engoliu como a um peixe. Assim, ele encerrava dentro de si, com a mãe, a primogénita que esta trazia na barriga e que viria à luz em breve.
Passado o tempo necessário para o nascimento, Zeus quis libertar a filha. Apelou para Hefesto, que, com uma hábil machadada, abriu-lhe uma fenda no crânio, por onde a deusa em armas saiu, soltando um estridente grito de guerra. O espectáculo prodigioso encantou seu pai, que a presenteou com a égide. Essa armadura, feita do couro da cabra Amaltéia, era uma poderosa protecção. Zeus já havia experimentado sua eficácia na guerra contra os Gigantes. Atena tinha um aspecto altivo com seu capacete emplumado, que lhe cobria os cabelos louros, seu grande escudo e sua comprida lança.
A deusa logo quis um reino. Escolheu a região da Ática, onde se encontrava uma cidadela construída numa colina. O deus do mar, Poseidon, também estava de olho nessa cidade. Para eleger seu soberano, os habitantes submeteram os pretendentes a um teste e decidiram que a Ática caberia à divindade que lhe oferecesse o maior benefício.
Deuses e mortais se reuniram na Acrópole para assistir à competição e apontar o vencedor. Poseidon golpeou o rochedo com seu tridente, e dele jorrou, de imediato, um lago de água salgada. A maravilha era notável, mas o benefício, mínimo. Foi a vez de Atena. No chão onde ela pusera seu cajado nasceu uma árvore de folhagem prateada e frutos verdes. Um grito de admiração se elevou entre os espectadores: que prodígio!
Por unanimidade, resolveram conceder o poder a Atena, que acabava de introduzir a oliveira nas terras da Ática. Para homenagear a deusa, os habitantes deram o nome dela à cidade e lhe consagraram a oliveira. A cidade de Atenas se tornou, assim, sua protegida.
A engenhosidade da deusa a levou a criar numerosas invenções. Para a guerra, ela imaginou a quadriga, um carro puxado por quatro cavalos, que conduz os heróis ao campo de batalha. Era igualmente considerada deusa da razão. Não foi por acaso que os filósofos e os poetas dos outros países foram compor suas obras em Atenas, sob a protecção da deusa.

Contos e Lendas da Mitologia Grega