( 391x375 , 253kb)


05/09/2009

O peixinho e o pescador


O peixinho há de ser peixe,
Se vida o céu lhe outorgar;
Mas quem o solta esperando
Que às mãos lhe torne a voltar,
É louco; que é muito incerto
Podê-lo outra vez pescar.

Pescando certo sujeito
Nas águas de uma ribeira,
E pilhando um barbozito,
Disse-lhe desta maneira:
"Tudo faz número e conta,
Tudo serve à frigideira.

Vai para o cesto, manjuba,
Que és princípio de um festim."
Mas o peixinho, a seu modo,
Ao pescador fala assim:
"Dizei, senhor, eu vos peço,
Que podeis fazer de mim?

Mal chegará meu corpinho
A formar meio bocado,
Esperai que eu fique barbo,
Serei por vós repescado,
E por um rico banqueiro
Bem caro talvez comprado.

É necessário apanhardes
Um cento de iguais peixinhos
Para com eles encherdes
Um prato dos mais mesquinhos,
Que há de ser entre os convivas
Repartido aos bocadinhos."

"Sim, amigo? Isso é verdade?
(Redarguiu-lhe o pescador),
Pois ireis à frigideira,
Meu peixinho pregador,
Hei de comer-vos à ceia,
Preparado a meu sabor."

Um "Toma" vale no mundo
Mais do "Dois te darei".
O "Toma" é sempre seguro.
Quanto ao segundo... não sei.

Barão de Paranapiacaba (Trad.)