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21/07/2009

A biblioteca viva



Era uma vez, na Roma antiga, um homem muito rico, que gostava de exibir a sua riqueza em festas fabulosas. Mas havia um inconveniente.
Como o ricaço tivesse pouca instrução, com dificuldade acompanhava as conversas dos seus convidados, que apreciavam falar de literatura e de outros assuntos desenvolvidos em livros, que ele desconhecia.
Apercebendo-se disso, ordenou ao governante do seu palácio que escolhesse uns tantos escravos inteligentes e de boa memória. Para quê? Para obrigar cada um deles a decorar um livro. Queria assim provar que os livros eram dispensáveis, desde que se dispusesse de escravos capazes
de os saber de cor e salteado.
A aprendizagem dos escravos demorou, mas ao fim de algum tempo este homem muito rico podia orgulhar-se de possuir a única biblioteca viva de todo o Império romano.
Sempre que queria mostrar que não ficava atrás dos seus convidados mais cultos, o homem muito rico batia palmas e chamava, pelo nome da obra, o escravo que a tinha
decorado. Tanto podia ser a "Ilíada", como a "Odisseia" ou a "Eneida". O escravo recitava-a, fosse do princípio, fosse do meio, fosse do fim para o princípio.
De uma vez, estava o homem muito rico à conversa com alguns poetas e escritores, e quis embasbacá-los.
– Conheço uma passagem da "Ilíada", que vem a propósito do que estávamos a conversar – disse ele, enquanto batia palmas – Chamem o "Ilíada".
Mas o escravo que sabia a "Ilíada" não apareceu.
– Que se passa? – perguntou o homem muito rico, estranhando a demora.
O governante do palácio, aflito, ajoelhou-se aos pés do seu exigente patrão e balbuciou:
– Perdoai-me, senhor, mas o "Ilíada" está com dores de barriga.
Parece que foi a partir deste incidente que o homem muito rico se resolveu a ganhar instrução pelos seus próprios meios.