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12/05/2009

O cavalo que se quis vingar do veado


Antigamente os cavalos
Para nós não trabalhavam.
Quando os homens primitivos
De glandes se contentavam,
O burro, o cavalo, a mula
Livres na selva erravam.

Não havia, como agora,
Arado, albardas, selins,
Cadeirinhas, carruagens,
Arnêses, grevas, fains
Nem também tantos banquetes
Casamentos e festins.

E, pois, nesses belos tempos
Certo cavalo apostou
Com um cervo, que na carreira
Muito a distância o deixou.
Para vingar-se — o vencido
Humano auxílio buscou.

O homem meteu-lhe um freio,
E saltando-lhe ao costado,
Somente lhe deu descanso,
Quando o mísero veado
Foi do cavalo à vingança,
Afinal, sacrificado.

Isso feito — eis o cavalo
Agradece ao benfeitor
E diz-lhe: "Sou todo vosso
Por tão distinto favor;
Volto à espessura selvagem,
Adeus, adeus, meu senhor!"

"— Isso é que não! (volve o homem)
Melhor aqui ficareis;
Hoje, que sei vosso preço,
Penso e leito gozareis;
Abarrotada de feno
A manjedoura tereis".

Ai! De que vale a fortuna
Se a liberdade é perdida!
Viu-se o cavalo privado
Do maior bem desta vida.
E que volta? A estrebaria
Estava já construída.

Ali terminou seus dias.
Sempre arrastando o grilhão.
Não fora melhor que houvesse
Dado à vingança de mão,
Outorgando ao pobre cervo
Da leve ofensa o perdão?

Por maior que seja o gozo,
Que da vingança provém,
Caro paga o que a consegue
Com a perda do imenso bem,
Junto ao qual todos os outros
Preço ou valia não têm.


Barão de Paranapiacaba (Trad.)