( 391x375 , 253kb)


30/03/2009

O macaco e o golfinho


Costumam os Malteses nos navios
Divertir-se com cães e com bugios:
Afundou-se um navio desta gente
Junto a Sunio, que é cabo pertencente
À terra Ática: andava tudo a nado,
E um bugio também quase afogado.

Um golfinho, que o viu em tanto dano,
Parecendo-lhe ser vivente humano,
As costas lhe oferece; vem por cima
Das ondas, com o fim de que o redima.

Defronte do Pireu, que é estaleiro
De Atenas, perguntou ao companheiro
Se era desta cidade. — Respondia
Que sim, e da mais alta fidalguia.
"Conheces o Pireu?" lhe perguntava.
O macaco, cuidando que falava
De algum homem, dizia: "É um amigo,
Que estreita confiança tem comigo".

O golfinho ficou tão iracundo
Da mentira, que o pôs logo no fundo.
O golfinho foi muito rigoroso
Em dar ao mentiroso tão mau trato;
Porém todo o sujeito que é sensato,
Deve apartar de si o mentiroso.
O tratá-lo sempre é muito danoso;
Por isso haja cautela, haja recato;
Porque quando mo faz muito barato,
Ou me deixa enganado, ou enganoso,
Se me deixa enganado, fico tido
Por néscio; e de tal modo enganaria,
Que eu fique, além de pobre, escarnecido:

Se, pegando-me a sua epidemia,
Me deixou enganoso, estou perdido;
Que de um que mente bem ninguém se fia.

Couto Guerreiro (Trad.)