( 391x375 , 253kb)


24/03/2008

O carvalho e o caniço


Dizia ao caniço robusto carvalho:
"Sou grande, sou forte;
És débil e deves, com justos motivos,
Queixar-te da sorte!

Inclinas-te ao peso da frágil carriça;
E a leve bafagem.
Que enruga das águas a linha tranqüila
Te averga a folhagem.

Mas minha cimeira tufões assoberba.
Com serras entesta;
Do sol aos fulgores barreiras opondo,
Domina a floresta.

Qual rija lufada, do zéfiro o sopro,
Te soa aos ouvidos,
E a mim se afiguram suaves favônios
Do Norte os bramidos.

Se desta ramagem, que ensombra os contornos,
A abrigo nasceras,
Amparo eu te fora de suis e procelas,
E menos sofreras.

Mas tens como berço brejais e alagados,
Que o vento devasta.
Confesso que sobram razões de acusares
A sorte madrasta."

Responde o caniço: "Das almas sensíveis
É ter compaixão;
Mas crede que os ventos, não menos que os fracos,
Minazes vos são.

Eu vergo e não quebro. Da luta com o vento
Fazeis grande alarde:
Julgais que heis de sempre zombar das borrascas?
Até ver não é tarde."

Mal isto dissera, dispara do fundo
Dum céu carregado
O mais formidável dos filhos que o Norte
No seio há gerado.

Ereto o carvalho, faz frente à refrega;
E o frágil arbusto
Vergando, flexível — do vento aos arrancos
Resiste, sem custo.

Mas logo a nortada, dobrando de força,
Por terra lançava
O roble que às nuvens se erguia e as raízes
No chão profundava.
Barão de Paranapiacaba (Trad.)